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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

'Prêt-à-porter - moda ou modismo?


Croquis no início do prêt-à-porter


No final da década de 1940, para ser mais precisa, em 1949, depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em pleno pós-guerra, no auge da democratização da moda surgiu o prêt-à-porter, criado pelo estilista francês J. C. Weill, libertando as confecções da imagem ruim associada ao dia-a-dia, ampliando o campo de ação em todo o mundo e crescendo diante da decadência da alta-costura.

Prêt-à-porter vem do francês “prêt” (Pronto) e “à-poter” (para levar), nos termos da moda se traduz por “pronto para vestir” e deriva do inglês “read to wear”. Em outras palavras, prêt-à-porter são roupas produzidas em série para um grupo de consumidores em potenciais e não para um consumidor específico e exclusivo, além de ser em tamanhos predefinidos (P, M e G).

Como resultado da industrialização da moda as roupas começaram a serem confeccionadas em série e não mais sob encomenda ou sob medida, e assim logo se popularizou, principalmente por oferecer uma grande praticidade, além da variedade não só de estilos, mas também de preço. As técnicas de produção em massa já estavam bem desenvolvidas nos Estados Unidos, fazendo com que, principalmente lá, o sistema prêt-à-porter crescesse, porém foram os franceses que adaptaram o sistema de produção industrial dos EUA, transformando-o no prêt-à-porter, incorporando valores estéticos, como cartela de cores e temas.

A moda ficou mais acessível com o prêt-à-porter, alem de se consolidar como um dos principais “motores” que fazem da moda a indústria milionária que ela é atualmente. “De um lado, fim do pólo sob medida e da moda de dois patamares sob o primado da Alta Costura; de outro, generalização de prêt-à-porter e disseminação dos pólos criativos” (Lipovetsky, 1989).

Com o surgimento do prêt-à-porter, a Alta Costura deixou de lançar a moda, e as coleções prêt-à-porter passaram a ditar as tendências. Embora as peças industriais sejam produzidas em série, o prêt-à-porter tem a moda em si, ele uniu a indústria à moda, acrescenta estilo às ruas, ele da um ar mais diferente e criativo às peças básicas.

O prêt-à-porter associado aos estilistas agrega valores aos produtos como o estético, mudando o estatuto do vestuário industrial de massa, tornando-o um produto de moda. Além da mudança estética, o prêt-à-porter teve também a simbólica, pois ele ergueu um símbolo de alta classe: a griffe. O prêt-à-porter democratizou a griffe, que ganhou outra imagem, a de marca. Desde então as marcas industriais começaram a trabalhar com a publicidade

Peculiarmente unida à assinatura de um estilista ilustre, as marcas queriam atrair publicidade, apropriando um quê de personalizado aos milhares de peças produzidas em série, esse “quê” tornariam as desejadas.

Com o fim da “moda de cem anos”, iniciou o período da moda aberta, democratizada à massa. Com novos critérios criativos, focos de mercado e produção planejada por criadores profissionais, uma coerência industrial serial, coleções sazonais, ou seja, ligada às estações, além dos desfiles com modelos para fins publicitários, à fase prêt-à-porter se consolidou.

Em 1970, o look jovem predominava em companhia com o prêt-à-porter que dava adeus ao estilo clássico que prevalecia com a Haute Couture. No final do século XX o novo, relacionado ao progresso da economia, da mídia, do rock e dos novos valores da sociedade, passou a dominar vitrines e, consequentemente, mentes.

As pessoas queriam ser contemporâneas, atualizadas, por isso aderiam a moda, queriam ser notadas. Porem, isso manifestou o desejo de pertencer a uma “tribo” urbana, pois na verdade ninguém queria ser absolutamente diferente. O que era vestido simbolizava não só a idade, mas também as atitudes e o estilo de vida. O prêt-à-porter oferecia muitas opções de estilos para que cada pessoa escolhesse o que queria aparentar com tal roupa, assim a moda tornou estética a vaidade humana.

Com o prêt-à-porter a moda encaminhou-se para o caminho do ecletismo de mercado, criando um empório de estilos. A moda democrática do prêt-à-porter aumentou o numero de clientes, aumentando também o público-alvo da própria imprensa.

A moda não se uniformizou totalmente com o prêt-à-porter, pois este foi um movimento democrático que reduziu as diferenças entre o feminino e o masculino, mas longe de uma unificação.

Atualmente a Alta Costura não está mais voga, a exclusividade, claro que ela ainda existe, mas não é algo que a maioria das pessoas pode possuir, ou seja, o público é restrito. O prêt-à-porter é muito maior do que se imagina, as marcas exibem suas coleções em passarelas que além de irem para a indústria têm seus modelos copiados por outras marcas menores que tornam as roupas e todo o estilo que envolve a criação de uma peça acessíveis à massa.

Portanto, o prêt-à-porter não pode ser considerado, de modo geral, um modismo, pois ele não é algo passageiro, eminentemente efêmero, de curta duração associado ao consumismo. Modismo é um comportamento mais estereotipado, geralmente de um grupo, é quando as pessoas se vestem e agem como todo mundo, e é claro que algumas peças de coleções prêt-à-porter não conseguem virar nada mais que um modismo, do mesmo modo como algumas peças levam algum tempo para virar moda, para virar algo usual, independente das tendências, pois demora um certo tempo para as pessoas assimilarem certos produtos, pois eles carregam informações.

A roupa é fruto da moda, que por sua vez é um signo de personalidade e de expressão, além de ser ditada pelas coleções prêt-à-porter. “A era do prêt-à-porter coincide com a emergência de uma sociedade cada vez mais voltada para o presente euforizada pelo novo e pelo consumo” (Lipovetsky, 1989), o consumo da moda criou uma complexa estrutura e uma necessidade da mesma ter um sistema desenvolvido, como é o do prêt-à-porter.

O prêt-à-porter surgiu pra ocupar o espaço da alta-costura, ele trouxe um conceito de modernidade, ele é, em si, uma moda, criada por estilistas, designers que desenvolve uma coleção prêt-à-porter seguindo tendências, adaptando-as ao estilo pessoal e ao da marca. O sistema prêt-à-porter lidera na moda, com suas tendências, mesmo com as poucas mudanças de estrutura e com o passar do tempo.


Referências Bibliográficas

DISITZER, Márcia; VIEIRA, Silvia. A moda como ela é. Google Books. ISBN 8574582115, 9788574582115. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=4y8f53mVi3IC&printsec=frontcover. Acessado em: 2 set. 2008.

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LIMA, Diane. A Moda referenciada na Historia do Design: afirmação de uma atividade projetual. Rede Design Brasil. Disponível em:http://www.designbrasil.org.br/via/opiniao/imprimir.jhtml?idArtigo=778 . Acessado em: 2 set. 2008-09-10

LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Cia das Letras, 1889.

LOPES, Ana Carolina de Souza. Marketing de Moda: Reinventando o Mercado de Moda de Brasília. Docstoc. Disponível em: http://www.docstoc.com/docs/357303/Marketing-de-Moda---Monografia-Ana-Carolina . Acessado em: 2 set. 2008.

MATTA, Luis Eduardo. Moda e modismo prêt-à-porter. Digestivo cultural. Disponível em: http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=1582#topo . Acessado em: 2 set. 2008.

MORELLI, Graziela. Artigo 005 – O surgimento da marca na moda. SantaModa. Disponível em: http://www.santamoda.com.br/artigo.asp?codigo=1055 . Acessado em: 2 set. 2008.

SAYURI, Juliana. A importância histórico-sociológica do prêt-à-porter. Fashion Bubbles. Disponível em: http://www.fashionbubbles.com/2008/a-importancia-historico-sociologica-do-pret-a-porter . Acessado em: 2 set. 2008.




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